É um tema que afeta milhões e, muitas vezes, é complexo de compreender. Ao redor de 70% da população mundial desenvolve dor na coluna em alguma etapa de suas vidas, mas na maioria dos casos ocorre resolução espontânea ou apenas com tratamento conservador.
Os sintomas podem variar de desconforto leve a intensas dores que afetam a qualidade de vida e a capacidade de realizar tarefas diárias. Felizmente, existem várias opções de tratamento disponíveis para aliviar a dor na coluna e ajudar os indivíduos a retomar suas atividades normais.
Como médico especialista em dor, meu objetivo é guiar você através dessa jornada de conhecimento e fornecer informações valiosas para entender, prevenir, saber identificar os sintomas de alarme e as possibilidades de tratamento para recuperar a sua qualidade de vida.
Dor lombar (Lombalgia)
A dor lombar é uma das grandes campeãs de procura por um médico especialista em dor, sendo um dos tipos de dor mais comuns no consultório.
É muito importante identificar a causa para direcionarmos o tratamento, que pode ser apenas de reabilitação ou envolver procedimentos minimamente invasivos (bloqueios, infiltrações) para o controle do quadro álgico.
A lombalgia é a dor que ocorre na região lombar inferior. Pode ser aguda (duração menor que 3 semanas), subaguda ou crônica (duração maior que 3 meses).
A coluna é formada por um grande número de estruturas (ligamentos, tendões, músculos, ossos, articulações, disco intervertebral), e consequentemente as causas podem ser várias.
Uma história detalhada da dor, fatores associados e um exame físico meticuloso para um correto diagnóstico, sendo esse essencialmente clínico.
Exames de imagem em geral não são solicitados em lombalgias agudas, apenas nos casos em que são observados alguns sinais de alerta como febre, perda de peso, déficit neurológico, idade acima de 50 anos e trauma. Quando há persistência da dor por mais 4-6 semanas os exames devem ser solicitados, como Rx, tomografia computadorizada e a ressonância magnética.
Portanto a solicitação dos exames de imagem e laboratoriais devem sempre serem individualizados e correlacionados com as manifestações de cada indivíduo.
Dor no pescoço (Cervicalgia)
A Cervicalgia é um problema comum em todo o mundo, e constitui causa importante de incapacidade. Anualmente, a cervicalgia afeta entre 30 a 50% da população geral, ao redor de 15% da população geral experimentarão cervicalgia crônica (>3 meses) em algum momento de suas vidas. Aproximadamente 10% dos adultos têm dor no pescoço. A maior prevalência ocorre em doentes de meia idade, e as mulheres são mais afetadas que os homens.
Cerca de 30% da população apresenta um episódio de dor cervical no período de 1 ano. Entre 2% a 11% dos casos, a dor é forte e duradoura o suficiente para prejudicar as atividades diárias do paciente. Os principais fatores de risco são a predisposição genética, o tabagismo, o sedentarismo, obesidade e problemas posturais.
Os fatores de risco incluem o trabalho repetitivo, longos períodos de flexão cervical, estresse aumentado no trabalho, fumo, e traumatismos prévios do pescoço e ombros.
Várias estruturas anatômicas podem causar dor cervical. Os principais exemplos são os músculos do pescoço, os discos intervertebrais, as facetas articulares (articulações entre as vértebras), ligamentos e até a dura máter.
É uma condição clínica que pode ser causada por vários fatores, incluindo distensões musculares, ligamentares, artrose, hérnia de disco, dentre outras.
O diagnóstico da dor cervical é realizado através da obtenção de uma história clínica e um exame físico minucioso. Exames de imagem como radiografias, tomografias e ressonância nuclear magnética podem ser úteis.
DIAGNÓSTICO DAS DORES NA COLUNA
Em alguns casos é extremamente difícil precisar a causa da dor. Podemos então utilizar os bloqueios diagnósticos como uma ferramenta importante. Através de punções realizadas com agulhas e guiadas por métodos de imagem (raio-x, ultrassom ou tomografia, por exemplo), injetamos pequenas quantidades de anestésicos na estrutura que suspeitamos ser a fonte da dor, caso o paciente apresente melhora, podemos afirmar com mais exatidão que aquela era de fato a causa da dor do paciente.
A análise da ressonância deve ser feita com cautela pois sabemos que inúmeros pacientes têm degeneração do disco intervertebral sem que isso seja causa de dor. A análise da ressonância deve ser feita com cautela pois sabemos que inúmeros pacientes têm alterações facetárias sem que isso seja causa de dor.
Em alguns casos específicos lançamos mão de um bloqueio diagnóstico. Caso o paciente tenha melhora das dores podemos dizer com maior grau de certeza que de fato as dores vinham do disco.
Para isso é realizada uma infiltração de anestésico dentro da articulação com posterior avaliação da dor do paciente.
Estima-se que até 30% dos casos de dores lombares crônicas sejam causadas pela artrose entre as vértebras da coluna lombar. Facetas lombares são as articulações entre as vértebras da coluna. Elas estão presentes na região cervical, torácica e lombar.
As facetas lombares são articulações como todas as outras, contendo cartilagem, uma cápsula e líquido no seu interior como têm as articulações dos joelhos, quadris, etc.
Portanto, também estão sujeitas a processos de degeneração e artrose. E quando isso acontece podem provocar dores lombares.
TRATAMENTOS
O tratamento de pacientes com dores lombares vai depender, logicamente, da causa específica.
O objetivo inicial do tratamento é o alívio da dor. Podem ser usadas várias medicações incluindo analgésicos, antiinflamatórios, miorrelaxantes, corticóides e opióides. O repouso, embora recomendado na fase aguda, deve limitar-se a um curto período uma vez que seu prolongamento retarda a recuperação e favorece a cronificação do processo sobretudo por facilitar a perda de força muscular. Na lombalgia crônica nenhuma terapia isolada é eficiente. Os mesmos medicamentos da fase aguda podem ser usados e em alguns casos há benefícios importantes com o uso de algunmas classes de antidepressivos em baixas doses para controle da dor. A reabilitação com exercícios de alongamento e fortalecimento muscular além da reeducação postural são fundamentais para reduzir os sintomas e prevenir o retorno das dores. Outras intervenções incluem TENS, acupuntura, terapia cognitivo-comportamental e infiltração.
Apenas 1 a 2 % dos pacientes necessitam de cirurgia. A necessidade da mudança de hábitos de vida, seja em relação à atividade física, vícios posturais ou atitude passiva em relação à dor deve sempre ser orientada.
O tratamento de qualquer dor na coluna vertebral inclui usualmente o uso de medicamentos, reabilitação física (fisioterapia) e, quando refratário, por procedimentos intervencionistas em dor.
o emprego de uma fisioterapia especializada associada a alguns medicamentos analgésicos. Quando essa combinação não traz bons resultados devemos optar por procedimentos minimamente invasivos. Temos vários procedimentos à nossa disposição, como bloqueios de nervos, infiltração de articulações e rizotomia.
Usualmente, indicamos os procedimentos partindo do que é mais simples para o mais complexo, iniciando com tratamentos que oferecem menos risco ao paciente, claro que avaliando todos os tratamentos que o paciente já foi submetido e todo o impacto que aquela dor tem causado à vida do paciente em questão.
Bom, felizmente sabemos que a minoria dos pacientes com hérnias de disco precisam operar. Existem inúmeras técnicas minimamente invasivas que podem ser utilizadas para pacientes que sofrem com esse problema.
Basicamente, temos duas indicações para cirurgias de hérnia de disco. A primeira seria uma hérnia suficientemente grande para comprimir nervos causando uma diminuição importante da força das pernas, em caso de hérnias de disco lombares, ou dos braços, em casos de hérnias de disco cervicais.
A segunda indicação seria a presença de uma dor que não melhora com nenhum tratamento, inclusive os minimamente invasivos citados abaixo.
O tratamento básico para esse tipo de paciente é a fisioterapia e uso de alguns medicamentos analgésicos. Quando isso não resolvia o problema o paciente era automaticamente encaminhado para a cirurgia. Hoje não é mais assim, há inúmeros tratamentos menos invasivos do que a cirurgia. Por exemplo, podemos colocar uma agulha fininha ao redor do nervo comprimido pela hérnia e injetar uma substância anestésica e anti-inflamatória (a dor da hérnia ocorre porque há uma compressão do nervo que desce para a perna). Esse tipo de procedimento associado à fisioterapia reduz a necessidade de cirurgias em 80%, segundo estudos científicos. Outra opção seria retirar parte da hérnia com uso de dispositivos específicos, sem necessidade de cortes, sem necessidade de internação ou de anestesia geral.
É importante ter em mente que hérnias de disco podem ser reabsorvidas pelo corpo humano. Os procedimentos minimamente invasivos associado à fisioterapia podem oferecer um período de conforto para o paciente aguardar que isso ocorra.